Estou triste

Nunca gostei de expôr muito o que me ia na alma e nem de me tornar um livro aberto para ninguém. Não sou dada a grandes exposições e não gosto de demonstrar muito de mim. Quem me conhece a fundo sabe que sou assim, mas verdade seja dita, foram e são poucas essas pessoas. Muitas porque não tentam, outras tantas porque eu não deixo. As que me conhecem de verdade não o conseguiram por serem mais inteligentes, apenas por serem mais atentas. Mais atentas aos outros, mais atentas às reacções de cada um. Neste caso, às minhas reacções. O que hoje em dia é cada vez mais raro pois as pessoas são, de um modo geral, mais viradas para o próprio umbigo. Depois de montado o puzzle sobre mim, chegavam a um entendimento. Sabiam que determinados gestos por mais insignificantes que aparentassem ser, haviam nascido de um esforço, mas de um esforço com vontade, não um esforço contrariado. Como tal sinto-me triste quando vejo pessoas que abusam apenas por capricho. Que brincam de forma insensível apenas para seu belo prazer e que procuram obter atenções e elogios apenas para gosto pessoal sem qualquer espécie de intenção de retribuir minimamente o que quer que seja. Faz-me muita confusão. E faz-me recordar pessoas especiais que fizeram parte do meu passado e que não eram de todo assim- e que na época eu não valorizei. Porque julguei, ingenuamente, que toda a gente era dessa maneira. Que todas as pessoas eram assim perspicazes e generosas. Que se gostavam de mim, era porque me davam valor e como tal, não lhes era nunca indiferente o meu estado de espírito. Mas estava enganada. Algumas pessoas são mais egoístas. E é-lhes tão natural, que nem percebem que o são. Tenho saudades daqueles amigos verdadeiros que faziam de facto coisas por nós.